Eclipse: Uma odisséia espacial ao centro da diversão!
- Alex Mendes
- 10 de abr. de 2017
- 9 min de leitura

Poucos jogos têm um certo poder especial. Questão de gosto ou de qualidades únicas, poucos são os jogos da minha coleção aos quais considero ter esse poder especial. Qual poder? O de me fazer apaixonar por eles mesmo antes de jogá-los. Eclipse: The new dawn of the Galaxy, do finlandês Touko Tahkokallio, foi um desses. Eu sabia que seria um dos meus jogos preferidos, desde os primeiros momentos em que comecei a pesquisar sobre ele. Já no primeiro gameplay que assisti, no canal do Igor Knop, a cada review escrito, podcast ou outros vídeos, esse meu desejo e vontade de tê-lo foi crescendo até finalmente conseguir comprá-lo.

Lançado em 2011, pela Lautapelit.fi, Eclipse arrebatou vários prêmios e indicações. Em 2012 ele venceu o Golden Geek de melhor jogo do ano. Naquele mesmo ano foi indicado também nas categorias de Melhor jogo de estratégia, Jogo mais inovador, Melhor arte/apresentação, Melhor jogo temático e Melhor jogo de guerra. Tudo isso em um jogo só!
Ambientando em um futuro distante, após um longo período de uma terrível guerra entre os humanos e a hegemonia que durou mais de 3000 anos, as civilizações galácticas vêm experimentando um período de paz há várias gerações. Em um esforço conjunto, um Conselho Galáctico foi criado para manter a paz. Mas apesar de todos esses esforços, a tensão e a discórdia têm crescido entre as sete principais raças do Conselho. A corrida armamentista, a busca por novos poderes e quebra de antigas alianças, por fim, mergulharão o cosmo em novos conflitos e a sombra desses dias escuros, eclipsarão toda a galáxia. Quem será o vencedor que emergirá dessa guerra cósmica?
Eclipse é um wargame de exploração espacial, mas que também se enquadra em um jogo do estilo Civ (desenvolvimento de civilização). Nele, cada jogador estará no comando de uma civilização, seja humana ou alienígena, lutando pela dominação da galáxia. Através da expansão dos seus domínios, lançando sua influencia aos setores vizinhos, desenvolvendo novas e perigosas tecnologias, construindo naves poderosas e até formando alianças (e quebrando-as!), cada um lutará para ser o único vencedor.

Eclipse é um jogo 4X - Explore, Expand, Exploit and Exterminate (explorar, expandir, aprimorar e exterminar). Em minha opinião, ele não chega a tanto na parte de exterminar e seria no muito, um 3.75X... Claro que existem batalhas, elas estão bem presentes sim e jogadores podem ser eliminados, seja pela má administração ou por ataques de outros jogadores, mas é um cenário muito incomum, devo dizer. Raramente alguém joga para destruir outros por meio de batalhas. O que normalmente acontece é que quando os jogadores se sentem mais fortes e confiantes para o combate, a partida já avançou muito e já está perto de seu término.
Talvez seja esse um detalhe que afaste os 'heavygamers'. Eclipse é um euro, com todas as qualidades de um: Cubinhos para administrar, componentes em madeira, a conhecida alocação de peças para realizar as ações, a partida é definida em 9 turnos fixos e ao final dela, vence quem tiver mais pontos e não necessariamente quem brigou mais. É uma corrida por pontos e não por embates espaciais. Bem diferente dos clássicos jogos com batalhas épicas, em que destruir seus adversários é o único caminho para a vitória, como escrevi acima, as batalhas existem e são comuns, mas não necessárias para a vitória. É possível terminar o jogo sem ter havido qualquer combate entre jogadores. Existem outros caminhos para fazer pontos, como a trilha de tecnologias ou a expansão galáctica, que renderá mais recursos e pontos a cada Hex influenciado.
Mas não deixe meu comentário acima, te enganar. Eclipse é também um maravilhoso ameritrash e tem todas as características de um: tema forte, miniaturas, combates com naves customizadas, uma I.A. que simula desafios extras para os jogadores e também há os combates, um monte deles. As batalhas são definidas tiro a tiro, pelo lançamento de dados coloridos. Cada jogador pode ir desenvolvendo suas naves espaciais de forma totalmente particular. Naves difíceis de acertar, naves defensivas, agressivas e por aí afora. Com certeza agradará a todos os que buscam confrontos.
Então é um Euro ou Ameritrash? Acho que ele é um verdadeiro Eurotrash (ou seria um Ameuro?)! Touko Tahkokallio concebeu um híbrido nos estilos europeu e americano de jogos e conseguiu juntar de forma magistral, dois conceitos que raramente se tocam e o resultado agradará quem busca o melhor dos dois universos. E claro, desagradará pelos mesmos motivos. Os amantes do Risk, herdeiros do War, se sentirão intimidados pelas dezenas de decisões necessárias a cada jogada e a frustrante realidade de não conseguir fazer tudo o que se quer ou precisa. As ações são apertadas e é importantíssimo escolher com cuidado qual caminho seguir. Construir uma base de pontos? Usar os recursos para pesquisar, equipar naves ou expandir? Em alguns momentos, nem mesmo mover suas naves é possível com a economia apertada.
Já os amantes dos euros de raiz, se incomodarão com as ameaças constantes de vizinhos que só querem ver o universo pegar fogo, com toda a interação, seja por diplomacia, ataques e vizinhanças perigosas, que dificilmente conseguirão a tranquilidade necessária para construir seu caminho e seus pontos até a vitória. Pode ser uma experiência frustrante.

Componentes
O jogo em si é realmente uma odisseia. Pela riqueza dos componentes, pela quantidade e qualidade deles. A caixa é enorme e o jogo base contém mais de 900 componentes (precisamente 903) entre os tabuleiros individuais das raças, cubos, naves, tiles hexagonais, dados, tokens cartonados de pesquisa, de upgrade e por aí vai. Só para exemplificar, para os seis possíveis jogadores, são conjuntos em cores diferentes, contendo cada um, 70 peças. Essa quantidade absurda de componentes, assusta qualquer jogador de primeira viagem. Me lembro que quando adquiri o meu, foi uma cópia usada de uma pessoa na Ludopedia. Acabei comprando desse usuário, o jogo base e a expansão Rise of the Ancients. Quando o recebi, as duas caixas estavam com os componentes guardados em uma caixinha organizadora e dezenas de saquinhos zip-lock, mas estavam misturadas. Lembro que gastei quase um dia para entender tudo, conferir se estavam lá todos os componentes, reconhecer cada um e então separar tudo do jogo base e da expansão. Foi uma tremenda aventura só o abrir da caixa! -risos-

A arte dos componentes foi muito bem pensada também. A iconografia é abundante, mas impressiona pela clareza, funcionalidade e simplicidade. Não foi preciso mais que uma partida para entender tudo e perceber que faz sentido como está. A arte das civilizações no jogo talvez não seja das mais belas, com seu ar de ficção científica retro, mas encaixa bem no design como um todo.
Essa quantidade de componentes afasta alguns jogadores, que consideram seu setup inicial, algo que desabona demais o jogo. Existem no mercado, alguns suportes e ajudas para fabricar alguns organizadores que melhoram essa experiência. Os demais componentes, especialmente os tabuleiros individuais, funcionam bem e tenho que confessar, Eclipse fica lindo e imponente na mesa. Aliás, não é qualquer mesa que comporta uma partida dele. Apesar de não ter um tabuleiro central tradicional, os hexágonos explorados rapidamente enchem qualquer espaço. Ainda não o joguei em 6 pessoas, mas tenho minhas dúvidas se tenho espaço físico para tanto. A expansão que mencionei acima, trás para a mesa, inacreditáveis nove jogadores!
Equilíbrio e rejogabilidade
Seguindo a orientação do manual, minha primeira partida foi entre duas raças de humanos. Me lembro até hoje da experiência da descoberta, round a round. Ao final do jogo, fiquei realmente intrigado e maravilhado com o equilíbrio daquela partida. Nessa primeira partida, não houve combates entre os jogadores. Ambos preferimos enfrentar os Antigos e meu irmão foi enfrentar o Centro de Defesa da Galáxia.

Lembro que venci meu irmão por diferença de apenas um ponto. Em uma outra ocasião, fui ensinar o jogo para dois sobrinhos e jogamos em três, também com os humanos. A partida fluiu muito bem para os dois novatos e no final, vitória de um sobrinho por diferença de dois pontos apenas. Em ambas as partidas, foi ótimo ver a reação de quem jogou e ver aquele brilho nos olhos que faz com que desejemos voltar a mesa para tentar coisas diferentes. Uma das mecânicas presente é a de Jogadores com Diferentes Habilidades. Então, a menos que todos estejam jogando com raças humanas, a partida não será simétrica. Cada raça alienígena tem detalhes, pontos fortes e fracos. Conhecer essas nuances, torna o jogo mais desafiante e pode significar a diferença entre a vitória e uma cósmica derrota. Mas mesmo não conhecendo as particularidades de cada civilização, ainda assim o desafio e a diversão estão garantidos, porque os princípios básicos podem ser seguidos. Eclipse tem um fator de rejogabilidade que beira o espaço sideral. A cada partida, existem tantas coisas diferentes, que provavelmente você não será capaz de jogar duas vezes da mesma maneira. Existem as raças que podem ser escolhidas ou sorteadas, os tiles Hex que também são sorteados a cada partida, as pesquisas aleatoriamente retiradas no começo do jogo e a cada fim de turno, as melhorias das naves e as direções que os jogadores podem ir. Só a personalidade dos jogadores já pode garantir partidas épicas e muito diferentes entre si: Um jogador pacífico controlando a bélica Hegemonia Orion? Imagine o que vai dar..
Desenvolvimento
Durante o desenrolar da partida, cada jogador tem a possibilidade de realizar ações entre seis possíveis:
explorar(Explore) novos setores;
influenciar(Influence) setores;
pesquisar(Research) novas tecnologias;
fazer uma melhoria(Upgrade) em suas naves;
construir(Build) naves e estações espaciais e;
mover(Move) sua esquadra.
Os jogadores se alternam, realizando qualquer uma dessas ações, inclusive repetindo-as, até que não possa mais fazer qualquer uma delas. Ele então passa a vez e após todos terem passado, aquela rodada é finalizada. Cada jogador faz o balanço da sua economia pagando os custos da influência e recebendo pesquisa e materiais, são sorteados novas tecnologias para o mercado espacial e inicia-se um novo turno. Serão nove até o fim do jogo. O que limita a quantidade de ações que os jogadores podem realizar é seu custo, que vai aumentando na medida que os discos de influência vão sendo utilizados. E faz todo o sentido! Quanto mais um império ou corporação tenta lançar sua influência pelo mundo, mais caro será manter esse controle. O limite para o número de ações de influência será proporcional aos recursos financeiros que chegam a cada um no início do turno. Quanto mais setores espaciais explorados, maiores os recursos de entrada, mas obviamente, aumentam-se também os custos fixos de manter esses setores sob sua influencia. Os recursos adquiridos vêm em três tipos: créditos, ciência e materiais. Com os créditos é possível pagar os custos da influência, com a ciência compramos novas tecnologias e com os materiais, novas naves e instalações. Encontrar o equilíbrio entre seus gastos é o grande segredo para maximizar suas ações, pois um dos fatores de eliminação de jogadores é justamente não ter como pagar sua influência, sendo assim eliminado por falir a nível estratosférico!
Os Combates
As batalhas acontecerão sempre que, ao final do turno, depois de todos haverem passado, se encontrem naves de jogadores diferentes em um mesmo setor (hexágono). Essa também é uma das minhas mecânicas favoritas em Eclipse e faz muito sentido também. Estamos falando de setores representando uma parte do vasto espaço sideral.

Em teoria seria perfeitamente possível, quando da invasão de um setor desses, que exista a possibilidade de que o invadido consiga algo defensivo antes que as naves realmente se encontrem. A fase de combate já fica declarada no momento em que uma nave invade um setor ocupado, dando tempo então a cada jogador envolvido, pensar no que fazer, seja construindo alguma nova nave, satélite de defesa ou movendo parte da sua frota. Tudo vai depender de quanta influência cada jogador poderá desprender para tanto, porque a guerra sempre tem seu custo. Cada nave envolvida na luta pode ter uma configuração única. Existem diferenças entre cada raça e além disso, as naves podem ser melhoradas com armas, escudos, mísseis, cascos melhorados e computadores de mira. O combate se dá por ordem de iniciativa de cada nave. Serão lançando dados do tipo e quantidade designado na configuração de cada espaçonave. Existe o fator sorte, obviamente, mas essa questão pode ser contornada por tecnologias previamente instaladas em cada nave envolvida no combate. O que vai acontecer, dependerá em grande parte, da estratégia adotada.
Considerações
Todo fã acha que seu jogo favorito deveria estar em todas as coleções do mundo. No meu caso, em todas as coleções do universo! -risos-
A verdade é que Eclipse é um jogão, mas que pode não agradar a todos por suas peculiaridades. Talvez o tema, talvez o perfil de alguns jogadores e grupos e por aí afora. Mas com certeza é uma experiência que deve ser vivida antes de ser completamente descartada. Encontre alguém que tenha, marque uma jogatina e tire suas próprias conclusões. Ele vai surpreender positivamente, na maioria das vezes. Eu particularmente acho difícil me cansar e esgotar a caixa base dele, mas para os que gostam de horizontes ainda mais amplos, existem hoje no mercado, três grandes expansões: Rise of the Ancients (2012), Ship Pack One (2013) e Shadow of the Rift (2015). Cada uma acrescentará novas funcionalidades e raças, ampliando ainda mais a rejogabilidade do Universo Eclipse. Ship Pack One acrescenta mais beleza ao jogo, introduzindo conjuntos de naves plásticas diferentes para cada raça e há também uma nova funcionalidade de turno variável. Rise of the Ancients coloca os Antigos e suas naves avançadas, na luta contra os jogadores. Shadow of the Rift traz uma nova mecânica de distorções temporais e seis novas civilizações. Coisas demais para assimilar!

Eclipse é na minha opinião, épico em muitos sentidos. Provavelmente por preencher com detalhes bem pensados, os jogos de batalha da infância. Talvez seja por trazer interação intensa aos euros, coisa difícil de acontecer. Seja como for, seu autor conseguiu trazer aos tabuleiros, um universo em expansão. Não são poucas as vezes que durante as partidas, imagino algum episódio de Star Trek, cada raça com sua cultura e particularidades, indo audaciosamente, onde ninguém jamais foi...

Até a próxima, Comunidade!
Comments