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Opinião: O Papel dos Acessórios na Imersão dos Jogos de Tabuleiro

  • Foto do escritor: Alex Mendes
    Alex Mendes
  • 29 de mar. de 2017
  • 10 min de leitura

Sçythe, imersivo e lindo!

Com o passar do tempo e com o mercado brasileiro de jogos de tabuleiro modernos em um crescendo, muito tenho ouvido sobre a construção de uma experiência lúdica com os jogos. Não apenas amigos sentados ao redor de uma mesa, jogando sem pretensões, mas a construção de uma experiência mais profunda e fascinante, um verdadeiro mergulho no universo proposto por aquele jogo, naquele momento.


Ok, talvez nem todo mundo realmente queira essa experiência, pois sei que existem jogadores casuais, e também os que estão mais preocupados com a mecânica poderosamente construída no seu jogo preferido e para esses jogadores, um pouco mais de cores ou tema, realmente não mudará sua experiência. Estão aí há séculos os jogadores de xadrez que não me deixarão mentir sobre isso.


Mas o que seria de muitos jogos, se não fosse o fator imersão que eles proporcionam?


Podem existir pessoas que aleguem que o tema é tudo e que somente ele pode trazer diversão para a experiência boardgame e sem muito o que contestar, é realmente difícil imaginar uma partida de Zombicide jogada com cubinhos de madeira cinzentos ao invés daquelas dezenas de pequenas e divertidas miniaturas...


Mas também sei que só o tema não é tudo. Afinal, estamos falando da construção de uma experiência com os jogos. Algo que deve deixar uma marca positiva em cada jogador, que o faça pensar durante a semana sobre seus erros e acertos na partida, algo que faça o desejo de voltar a jogar, algo implacável demais para ser ignorado. Falo das memórias fixas que são escritas durante partidas memoráveis com seu jogo favorito, com seus amigos, naquela ocasião.


Imersão, do latim 'immersĭo', é sinônimo de mergulhar ou estar mergulhado em algo. Mas gosto muito também do conceito que diz que imersão é a introdução de alguém em um determinado ambiente, seja este real ou imaginário, assim, como os RPGs estão tão acostumados a fazer. Eu não sei se todos buscam o mesmo, mas quando jogo até uma partida de Patchwork, do Uwe Rosenberg, quero me sentir um artesão, trabalhando com afinco em minha colcha de retalhos, lutando para encontrar os melhores pedaços de tecido para formar minha obra de costura!


Daí entramos no assunto propriamente dito: O uso dos acessórios como fator de imersão, te levando a um novo ambiente. Vamos abordar a raspa da pontinha do iceberg do que existe para melhorar sua experiência com jogos. Penso eu que é algo que pode te dar uma experiência diferenciada em suas futuras partidas, especialmente se você curte eurogames, onde geralmente, os componentes apenas representam coisas, exigindo bastante da sua imaginação.


Os acessórios e componentes, para melhorar a experiência de jogo, podem ser dos mais diversos, nem pretendo listar, porque meu conhecimento não vai tão longe, mas vou colocar algumas coisas que podem te ajudar e despertar o interesse para se aventurar internet adentro, buscando mais sobre o que te agrada. Vamos lá!


Moedas em Metal


Cada jogo tem sua forma de negócio durante as partidas. Seja realizando missões, comprando e vendendo mercadorias, adquirindo serviços, materiais, armas, lugares, pessoas e outras funcionalidades. Para suprir essa necessidade de visualizar as trocas é que as moedas estão presentes na grande maioria dos jogos. Alguns jogos até, usam as moeda como pontuação ao final da partida, ou seja, quem conseguiu acumular mais, será o vencedor. Desde os tempos do velhinho Monopoly (acredite quando digo velhinho, porque esse jogo econômico tem mais de 80 anos!) que o dinheiro está presente nos jogos de tabuleiro e juntar o vil metal te conduzirá a mais próximo da vitoria.


Moedas em metal, para Terra Mystica.

Cada jogo sempre se preocupou em trazer suas próprias representações de moeda e é aí que se encontra o problema. Infelizmente, a esmagadora maioria dos fabricantes, sempre optou por produzir esse dinheiro de papelão. Claro, para evitar custos proibitivos na produção e lucro da empresa. Só que quase sempre, manusear esse dinheiro de papel não te dá qualquer sensação de estar rico ou melhorando de verdade durante a partida.


Jogos com algum tipo de dinheiro envolvido não são nenhuma novidade, mas e se você puder trocar aqueles pedacinhos de papelão por moedas de metal?

Um Toal de Lords of Waterdeep.

Várias empresas começaram a se especializar em fabricar moedas em metal para o seu jogo favorito. Não apenas marcadores genéricos com valores pré-estabelecidos, mas realmente customizam as moedas que vieram em papelão no seu jogo, para que você as possa usar e ouvir aquele tilintar metálico, cada vez que as juntar em sua mão. Só de pensar nisso, já imagino que despertou nos caros leitores, aquela cobiça de encher as mãos dessas pecinhas de metal!

Imagine jogar Puerto Rico, com dobrões envelhecidos, bem como qualquer outro jogo de pirataria que precise de moedas ou Tokaido, utilizando moedas imitando o Yen japonês. Jogos como Lords of Waterdeep ganham um charme extra, com os seus Harbormoon e Toals em metal. Dracmas para uma partida de 7 Wonders? Não há problema, é possível encontrar também!


O apelo visual das moedas de metal e tão grande, que de uns tempos para cá, cada vez mais jogos já saem da fábrica com versões de luxo, contando com moedas metálicas especialmente desenvolvidas para aquele jogo. Jogos recém lançados como Sçythe e o ainda no forno Yokohama Deluxe tiveram esse cuidado já em sua produção.


Marcadores customizados


Quem não ama meeples?

Ah.. aqueles homenzinhos, cada um mais divertido que o outro...

Miniaturas? Rapaz, miniaturas são o que de melhor há para te levar a uma experiência divertida e muito imaginativa em qualquer jogatina. Não sei se o apelo é igual para homens e mulheres nesse quesito, mas a maioria das crianças teve suas pequenas coleções de "bonequinhos" na infância. Quando essa experiência é transportada aos jogos, a diversão está praticamente garantida.

Botões de verdade para Pachtwork

Mas e se seu jogo preferido não tiver esses acessórios para uma experiência dessas? Não desanime, pois é possível encontrar uma gama muito grande de produtos para enriquecer o seu jogo e se sua preferência pessoal está longe dos cubinhos de madeira, pode ser que seus problemas de contextualização estejam chegando ao fim! Com um pouco de imaginação e bastante pesquisa em fóruns especializados em jogos, você vai descobrir o que precisa.


De tudo o que li sobre um dos meus jogos favoritos, em Lords of Waterdeep umas das reclamações mais presentes (e antigas!) sobre o jogo, justamente diz respeito à essa questão de usar cubinhos.

Deixe-me explicar: em Lords, cada jogador, para cumprir diversas missões, deve recrutar aventureiros de quatro classes disponíveis e enviar seus agentes nas mais diferentes missões em seu nome. Esses aventureiros são guerreiros, magos, clérigos e ladinos. Cada classe tem sua cor e no jogo, são representados por cubinhos de madeira. Daí, são poucos os que dizem que estão enviando guerreiros, clérigos ou magos nas missões. No geral a galera diz:


- eu vou enviar um roxo, um branco e dois laranjas e faço essa missão.


Com certeza, um jogo ambientado no universo D&D merece mais que isso, companheiro! -risos- Para solucionar essa barbaridade, muitas empresas fazem customizações, para que você não precise usar os cubinhos, caso não goste ou ache muito impessoal. Olha só que bacana esses personagem que a Forja Laser disponibiliza para o jogo. Eles têm o mesmo tamanho dos cubinhos originais.

As 4 classes de aventureiros de Lords of Waterdeep

Empresas como a norte americana MeepleSource têm se dedicado a dar 'cara' até para os meeples, para quem queira algo mais personalizado ainda. Eles oferecem linhas inteiras de personagens para o seu jogo favorito. Provavelmente nem todos estarão no gosto dos jogadores tradicionais, mas estou certo que esses componentes encontram seu público.


Recursos realistas


Longe de mim querer contar a história dos elementos representativos em board games, porque me faltariam dados históricos e conhecimento para tal, mas penso que certos jogos trouxeram alguma revolução na experiência do jogador. Agricola, entra em uma das minhas listas preferidas para falar disso. Ele não foi o primeiro e nem será o último (amém!) a inovar nessa área, mas é um ótimo exemplo para destacarmos.


Recursos (animeeples e vegemeeples) para Agricola

Lançado em 2007 por Uwe Rosenberg, causou sensação (e muita discussão) ao oferecer aos compradores (americanos) antecipados, os 'animeeples', que eram simpáticas representações em madeira dos porquinhos, vaquinhas e ovelhinhas do consagrado jogo. A versão brasileira, lançada pela Devir Editora, já veio com esses tokens divertidos. Posteriormente, para o mesmo jogo, foram lançados pacotes para substituir os demais recursos do jogo (madeira, trigo, junco, pedras e etc..). Confesso, que a experiência de jogar o consagrado Agricola nunca mais me deu sossego. Na minha versão brasileira, tirando os animais, tudo é representado por discos de madeira coloridos e genéricos.


Monstros em biscuit para King of Tokyo

Nesse aspecto das customizações para recursos e tokens representativos, vale destacar que já vi dezenas de posts internet afora, de pessoas que resolveram construir com seus próprios materiais, seja usando massa de biscuit ou qualquer outra técnica de modelagem. Muitos jogadores habilidosos no artsanato levaram esse quesito a um nível bem pessoal e único e a meu ver, partiram para a customização para terem algo realmente diferente em sua coleção. Se é prático ou não, quem poderá atirar a primeira pedra? Que fica bem inusitado e traz outro sabor, ah isso traz!


Uma menção honrosa: Em outro dos meus euros favoritos, o criador Jamey Stegmaier ao lançar comercialmente o jogo Sçythe, deu aos apoiadores da campanha do Kickstarter, a possibilidade de adquirir algo muito além do comum em minha humilde opinião. A versão retail do jogo, já viria com recursos em madeira bem simpáticos, mas quem se aventurasse pela versão Deluxe, poderia ter recursos muito mais realistas para suas partidas. Anexar esses recursos ao seu jogo te custava na ocasião do lançamento, cerca de US$21. Até a publicação desse artigo, a empresa Top Shelf Gamer estava em pré-venda do mesmo kit mas agora precisando desembolsar a bagatela de US$30, sem contar o envio, mas quem pode negar seu charme?

Recursos realistas de Sçythe

Trilha sonora


Se o caro leitor me acompanhou até aqui, cabe dizer que de todo o artigo, se tem uma parte que menos se encaixa no tema proposto, acho que aqui está.

A música por si só, não é um mero acessório e penso que merece um artigo igualmente importante (se não mais!) a se tratar no futuro. O que seriam dos filmes sem a trilha sonora? Melhor dizendo, que seria do mundo sem uma roupagem musical que nos possa acompanhar em todas as mudanças dramáticas e prazerosas da vida? O gosto musical, seja de qual estilo for, sempre nos moverá ao longo da existência.


Ao falar de música e jogos de tabuleiro, fica mais claro entender que isso pode tanto ser um excelente componente de uma noite memorável, quanto um facilitador para um desastre! Realmente existem pessoas que preferem o silêncio absoluto para encontrar seus pensamentos durante as difíceis decisões lúdicas. Mas creio eu que a grande maioria dos jogadores não conhece bem os benefícios que uma trilha sonora possam trazer à sua experiência de jogo. Mesmo que seja uma música de fundo, mais comportada, uma trilha sonora eficaz pode encher o ambiente e dar o clima de algumas partidas.


Seria incrível se no futuro, os próprios autores e editores de jogos sugerissem, colocassem nos manuais de jogos, ou fornecessem trilhas musicais para suas criações. Até esse dia, sei que reina uma verdade universal: Gosto não se discute (e como diz o vernáculo popular, apenas se lamenta!), mas penso na beleza de tentar entrar no 'clima' do jogo, ouvindo justamente o som que o autor ouvia imaginando sua aventura. Que lhe parece se um jogo de boardgame viesse com acesso exclusivo a uma playlist musical? Talvez não estejamos muito longe disso, afinal.


Do ponto de vista prático, mesmo sabendo que o propósito não é obter unanimidade, fico feliz em saber que muita gente também gosta de som ambiente em seus jogos e se dispõe a criar listas para isso. Está aí o Spotify e o Youtube, recheados de opções para quem sabe procurar. Sejam composições eruditas de época para jogos_do_arco_da_velha ou trilhas sonoras inusitadas.


Um exemplo? Se ama Star Trek, para sua próxima partida Fleet Captains (2011) ou Ascendancy (2016) você pode acessar esse vídeo aqui no Youtube e simplesmente jogar tendo como som de fundo todos os ruídos da ponte de comando de uma espaçonave da federação! E olha que existem opções de 8, 12 ou até 24hs... A criatividade na internet não tem muito limite mesmo...

Barcos piratas, sons da natureza, cachoeiras, rios, música zen. Tem de tudo.

Mas se você prefere composições mesmo, consegue encontrar temas do período renascentista, ou barroco, clássicos, trilhas sonoras e até temas espaciais... tudo ao alcance de um "clic".


Se nunca jogou nada com som de fundo ou música, humildemente recomendo dar uma olhada com carinho nesse assunto e se preparar com antecedência para acrescentar um 'acessório' musical (mesmo que um som ambiente) à sua experiência. Você não vai se arrepender!


Outros acessórios


Se ainda não está satisfeito ou se não encontrou o que procura, existe mais no vasto oceano das quinquilharias que podem ser adquiridas para incrementar seu momento ao redor da mesa.

Existem lojas que vendem decoração para o seu ambiente de jogo, mesas sob encomenda, camisetas com estampas do seu jogo preferido, canecas personalizadas, estantes para guardar seus jogos, malas para transporte... Acho que não há limite para dar seu toque pessoal no seu ambiente de jogo. Para o leitor ter uma ideia, Catan, de Klaus Teuber, tem uma loja online, onde você pode comprar, acredite, até par de meias com o tema do jogo, caso seja do seu interesse!


Área de jogo para X-Wing

O playmats são uma categoria que merece algum destaque. Muitas pessoas gostam de cobrir suas mesas de jogo com alguma toalha especial para dar um clima. Os playmats são um pouco diferentes. Se parecendo mais a uma dessas peças de jogo americano para o café da manhã, os playmats existem para que jogos de cartas, como Magic - the Gathering possam ter uma área mais estilosa e ao gosto do jogador.

Outro playmat essencial são os confeccionados com temas espaciais, para as partidas de jogos de combate com miniaturas, como X-Wing, Star Wars: Armada ou Star Trek: Attack Wing.


As pecinhas do seu jogos saem do lugar com facilidade? Um lançamento de dados tem um resultado catastrófico sobre os componentes do jogo? Os cubinhos no seu tabuleiro individual se espalham só de olhar para eles?

Quem joga o excelente Eclipse sabe bem o que é isso...

Game tray ara Eclipse.

Para esse problema e outros tantos, existem uma categoria de acessórios chamada game trays (literalmente, bandeja de jogos, mas conhecidos aqui por organizadores). Esses organizadores não são exatamente para dar imersão ao jogo, mas convenhamos: ajudam muito a ter sossego, porque ter paz durante o seu momento de lazer, fará toda a diferença para uma experiência memorável com amigos.


Como mencionei, seus problemas são com dados voando por cima dos componentes, especialmente nas mãos daquele seu amigo que não consegue jogar sem espalhafato? Bom, para isso existe solução também. Existe uma infinidade de acessórios para ajudar nisso. Desde sofisticadas torres de dados, com logotipo personalizado, até dezenas de projetos internet afora, para que você construa sua própria bandeja para os lançamentos de dados. Quem não quer ou não tem habilidade para construir sua própria, ou gosta das coisas mais clássicas, existem os copos especialmente vendidos para essa finalidade. Alguns modelos podem ser encontrados facilmente no Mercado Livre, por exemplo.


Copo em couro personalizado para Stone Age.

Quando o jogo ​Stone Age chegou no Brasil, o jogo foi inicialmente barrado e uma polêmica se instalou. Toda a produção do jogo era alemã e acompanhava o jogo, um copo para dados, feito em couro cru. O Inmetro julgou que os níveis de chumbo do tal copo de couro eram inadequados para um produto com a faixa etária especificada na caixa. O risco seria que as crianças poderiam levar o copo à boca (!!!). Para resolver a polêmica, os jogos nacionais tiveram esse acessório removido. Deu bafafá nas redes sociais, mas não teve jeito e quem havia comprado o jogo ficou sem esse item. Mas nada que não possa ser solucionado com alguma pesquisa na internet. Ao lado, um copo feito em couro igual (ou melhor!) ao original.


Os acessórios para boardgames são tão diferentes, quanto o gosto pessoal de cada um. Alguns os buscam, outros os abominam.

Em verdade, tentar abranger tudo o que existe seria impossível. Mas espero que esse texto tenha dado algumas ideias e dicas para quem quer ir além de simplesmente colocar o jogo na mesa. Espero que suas partidas sejam cada vez mais intensas, divertidas e épicas. Afinal é para isso que os jogos criados: para levar seus jogadores a um tempo de diversão, desafio e infinitas possibilidades.


Até a próxima, Comunidade!

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