top of page
Buscar

Os inimigos do board game

  • Foto do escritor: Alex Mendes
    Alex Mendes
  • 22 de mar. de 2018
  • 15 min de leitura

Antes de qualquer coisa, antes do caro leitor começar a ler, preciso dizer que não abandono esse osso. Apenas do título e do que o caro leitor encontrará nos parágrafos abaixo, não pretendo largar meus board games, apesar de todos os inimigos apresentados. Por quê? Porquê esse trem é "bão" demais!


Dito isso, quero descrever alguns discursos de ódio que andei coletando aqui e ali, ao longo dos últimos quatro anos em que tenho participado desse universo de jogos, jogatinas e jogadores. Há um bom tempo, venho percebendo comigo e com outros, alguns problemas comuns a muita gente. Sejam iniciantes compradores ou antigos colecionadores. Parece que tudo aquilo a que se dedica alguém, acaba sofrendo de problemas que tiram o sossego do entusiasta vez por outra. Com os jogos não é diferente, então queria listar alguns dos principais inimigos da coleção e do colecionador. Para alguns, nada demais, com toda a certeza. Para outros, um ponto aqui e ali será um lugar comum e pode ser que para outros (eu no meio), cada detalhe desses é um suplício a atravessar...


1. Isolamento


Jogos de tabuleiro são uma droga. Uma droga que vicia e consume sua grana suada! Mas é um tipo mais complicado de vício. É um vício que precisa de outras pessoas para funcionar!

Bom, talvez você seja uma pessoa que veio do mundo dos jogos eletrônicos mais antigos, aqueles em que você enfrentava a I.A. e pronto.

Mas a esmagadora maioria dos jogadores e colecionadores compra seus jogos para jogar com alguém. E é aí que as coisas complicam. Como é difícil encontrar pessoas dispostas a partilhar dessas experiências.

Em sociedade, aprendemos que as pessoas são diferentes. Cada pessoa tem suas preferências, seus gostos e sua maneira de gastar o tempo. Então, o gosto por jogos analógicos é só mais uma entre as milhares de atividades que amigos e família têm. E parece que ninguém se importa com seus “joguinhos”!

Puxa vida, gastamos uma grana, investimos em pesquisa, buscamos jogos que tenha apelo até para quem nunca jogou nada na vida. Vivemos esse universo, falamos sobre ele, planejamos nossas compras como quem planeja uma jogada de mestre de seu jogo favorito e... nada! Ignorados.

Como explicar para quem nos cerca que compramos um jogo novo? Quem nunca foi ralhado por comprar um novo board game que atire o primeiro meeple!

Quando nosso gosto não encontra eco em casa, talvez possamos recorrer, caso você more em uma cidade média/grande a grupos de jogos. Com certo esforço, dá para encontrar alguns jogadores (imagina a cena, você coloca um jogo debaixo do braço, pega o busão e cruza a cidade, à procura da casa de algum estranho, só para se sentar com ele algumas horas...). Conseguem imaginar a complicação?

E aí, você mora em uma cidade pequena e só tem alguma atividade lúdica na cidade que fica a 150km da sua. Então te pergunto: Como explicar para a namorada(o)/esposa(o) que você vai viajar até a cidade próxima, só para jogar? Se não pensarem que você é maluco(a), bem capaz do relacionamento terminar ali.. rsrsrs

Eu escrevi acima. É vício. E quem tem, precisa resolver como vai conseguir sua satisfação momentânea..

2. Avalanche de lançamentos


“Espera aí, lançamentos de jogos para quem tem vício é problema?!”

Depende. Se saísse um jogo por mês, seria algo extraordinário. Mas não é bem assim e na verdade, acho fantástico o nosso momento e temos muito o que comemorar no Brasil. Quando eu entrei no hobby dos modernos, em 2014, dava para contar nos dedos os jogos que saíram naquele ano. Cada anúncio era comemorado com rojão e se por acaso, fossem anunciados dois jogos no mesmo mês, tinha coro reclamando que a carteira não iria suportar e que o cartão de crédito já estava estourado e com muita tristeza no coração eram muitos os que diziam que não seria possível realizar a compra simultânea.

A gente era feliz e não sabia!!

Hoje, já é muito difícil contar quantos jogos são anunciados no mês. Em cada esquina da internet pipocam lançamentos, as editoras têm levado a sério e descobriram um filão rentável. Editoras surgiram e desapareceram e a angustia está presente. Simplesmente impossível comprar tudo o que tem saído, se é que algum dia foi.

Esse inimigo da nossa lista acaba sendo um inimigo quase imaginário, mas ele está lá. Se você for um jogador casual, com dois ou três jogos na estante, nem mesmo vai perceber que esse inimigo existe. Ele será só uma lenda. Agora, se você tem um quê de colecionador, com desejo de aumentar gradativamente sua coleção com jogos bons e de autores renomados. Então, esse sentimento causado pela impossibilidade de acompanhar o movimento, vai ser tão presente, quanto desolador.

E se sua carteira te ajuda a caminhar rápido nesse sentido, então você vai cair diretamente nos braços do próximo inimigo...

3. Espaço físico


Onde vou guardar esse monte de jogos?!

Você compra jogos pensando em ensinar a outros e acabar assim, com o seu isolamento. Daí aperta as contas, o cinto, as saídas ao cinema ou lanchonete, larga mão até de uma viagem para comprar as coisas realmente boas e imprescindíveis para a coleção e quando olha, mesmo sem ter 50 títulos, já se imagina vendendo o cachorro, para poder guardar mais caixas na casinha dele!

Porque será que os jogos têm que ter essas caixas gigantes e que ocupam tanto espaço? Espaço na vida moderna tem se tornado um artigo de luxo.

Li recentemente uma matéria no G1, dizendo que apertamentos, quero dizer, apartamentos com 40, 30 e 25 m² já ocupam quase 43% das unidades lançadas na capital paulistana. Essa será a tendência imobiliária dos próximos anos. Gente, quantos jogos podem ser guardados em um apartamento desses? Nem quero saber! Vou voltar a morar na casa dos meus pais, lá pelo menos deve ainda ter um quarto para mim e para meus jogos! -risos-

Mas falando sério, em um m² de estante você consegue colocar lado a lado, uns 240 jogos eletrônicos, imaginando que as dimensões da caixa sejam as de um DVD. No mesmo espaço na minha estante, empaçocando tudo e fazendo um tremendo jogo de tetris para organizar caixas grandes e pequenas, consegui a façanha de guardar 37!!! Claro, posso comprar mais estantes, mas exatamente, onde será que eu vou dormir essa noite?

The Wall - fonte: www.leftlion.co.uk

4. Os financiamentos coletivos


O terreno aqui começa a ficar escorregadio. Se até aqui, o bom humor e o exagero acompanharam sua leitura, entramos em um tema que mexe com os brios de um monte de jogadores, sejam eles os novatos no hobby, ou veteranos.

Financiamentos coletivos, seja via Kickstarter, Kickante, Catarse e co-familiares, quase sempre se convertem em ondas e mais ondas de ansiedade. Isso, para dizer o mínimo. As campanhas quase sempre são lindíssimas, produzem um desejo genuíno de apostar na idéia e ver nascer algo que você pode dizer depois: “Cara, eu ajudei a financiar essa belezinha! Se não acredita, olha lá meu nome no livro de regras!”

Mas o processo, da abertura do financiamento até o jogo na sua casa, muita água enlameada vai passar nessa enxurrada.

Você quer apoiar logo nas primeiras horas, só para garantir aquele extra maroto ou pegar um descontinho básico, mas vai olhar a campanha:

“Mêu, cadê o livro de regras disponível? Não tem!?”. E algum gameplay do jogo, encontra? Quando muito, algum vídeo que promete muito, utilizando montes e montes de peças do protótipo e você nem mesmo sabe como será a cara do jogo quando chegar na sua casa.

Bom, isso se chegar, porque abriram o financiamento em dezembro, prometeram para julho, já estamos em novembro e o povo da produção simplesmente não toca mais no assunto porque só aparecem para dizer que vai atrasar e levar bofetada dos apoiadores insatisfeitos. E com razão! Seria legal se esse detalhe, fosse só no amadorismo de empresas pequenas que recém entraram no negócio. Mas se vê isso em todos os segmentos do mercado.

Há poucos dias (março/2018) me chegou ás mãos, um financiamento encerrado em julho de 2016. Me considero até um felizardo, porque recebi o jogo financiado. Sei de casos que o pessoal está esperando até hoje jogos de 2014.

O atraso na entrega é o problema mais comum, mas tem algo mais triste, que vale a pena mencionar no tópico seguinte.


5. Hype, ansiedade e frustração


“Hype” é uma gíria que se fixou ao hobby, como aquele pó grudendo de beira de estrada. As vezes, nem um banho tira ele de você. Essa palavra já andou ganhando conotações bem ruins e tem gente que a usa no sentido pejorativo. Hype segundo o pai dos burros eletrônico (Google) é:

Hype é o exagero de algo, ou em marketing uma estratégia para enfatizar

alguma coisa, idéia ou um produto. É um assunto que está dando o que falar,

é algo que está na moda e que é comentado por todo mundo.

Assim, quando um jogo tem hype, todo mundo está falando dele e ainda mais, pensando em comprar, porque todo criador de conteúdo está concordando em gênero, número e grau.

Não existe um problema com o hype. Ainda mais porque você não é obrigado a comprar nada e se comprar, você é livre para fazer o que quiser com seu dinheiro.

O verdadeiro inimigo disso é lidar com o desprazer de adquirir algo que não vale nada. Ou ainda, que seja tão ruim, que logo depois que aquele super jogo ‘hypado’ sai para compra, absolutamente ninguém mais fala nada dele e esse jogo que gerou tantas expectativas se torna uma amarga desilusão.


Óbvio que você não vai culpar aos canais de conteúdo, mas que dá vontade, isso dá! –risos- Escrevo isso, porque tenho na minha coleção um jogo que foi hiper “hypado”. Todo mundo falava dele, todo mundo o queria e acabei embarcando no financiamento e olha só: o jogo mal tinha chegado no Brasil e alguns dos que haviam criado o “hype” sobre ele, começaram a falar mal! Meus queridos, estressei! Era novato nas jogatinas e achei que certo canal era confiável para ser ouvido nas minhas decisões por jogos. Hoje e felizmente, tenho esse como um dos meus jogos favoritos. Mas se tivesse me deixado levar, bem capaz de ter perdido a vontade de jogar muito antes de o jogo chegar à minha casa.

De 2015 para cá amadureci muito e hoje compro jogos por critérios pessoais. Mas volta e meia, só de comentar nos fóruns que esse jogo ou aquele tem mais hype que qualidades, é quase como gritar gol do São Paulo, no meio da organizada do Timão. Só com ajuda policial eu saio vivo dali...


6. Produção ruim


Daí você foi lá e comprou aquele jogo do hype e assim que ele chegou, você se prometeu que não compraria mais jogos dessa ou daquela editora? Quantas vezes você jurou que não daria mais chances aos jogos daquele povo que também jurou que os erros estavam agora no passado, que eles cresceram, amadureceram e são agora dignos do seu suado dinheiro?

Quando falo sobre produção ruim, não me refiro só aos componentes dos jogos, porque isso daria uma lista bem longa de maus exemplos. São cartas e tiles mal cortados, com tonalidades diferentes, caixas finas demais, inserts totalmente desnecessários ou que não contemplam os componentes de forma satisfatória, componentes faltando ou com defeitos, tabuleiros empenados ou que empenam rapidamente, textos com erros de português ou mal traduzidos, falta de revisão do produto final, produtos barateados, mas que deixaram a qualidade lá atrás, SAC deficiente na pós-venda... As histórias são tristes e quem conserva bem seus jogos, sabe que um dos principais motivos de desânimo com o hobby é a parte de design e produção.

Pode realmente dar a impressão de que as editoras estão aprendendo e tentando seu melhor para apresentar algo bom e com preço justo, mas ainda estamos longe desse lugar onírico. Hoje, muitas editoras têm pego carona nas produções internacionais de jogos. Seja em parceria via KS, seja aproveitando re-impressões estrangeiras e até em casos de jogos nacionais, a China se tornou o lugar para onde os jogos vão e depois vem. É óbvio que o parque gráfico chinês está a décadas a nossa frente, mas nem isso tem garantido a qualidade dos nossos amados jogos. Imagino que tenha a China qualidade A, a B, a C e às vezes, parece que certos jogos foram produzidos em algum canto obscuro de lá, cheio de trabalhadores escravos e totalmente despreocupados com aquilo que produzem.

Acontece cada coisa na produção...

7. Os preços praticados


Se o jogo tem hype ou não, uma coisa é inegável: os preços praticados são como uma facada no meio de duas costelas, na altura do coração!

Já li e reli opiniões discordando desse assunto. O raciocínio é somar uma saída ao cinema (gasolina, estacionamento, entradas, pipoca e refri e quem sabe, um lanchinho depois do filme) e multiplicar por quatro amigos. Daí só comparar com o preço de um jogo. A vantagem salta aos olhos e quanto mais você jogar, mais ‘barato’ terá saído seu jogo.

A encrenca desse raciocínio dá um nó na minha cabeça. Primeiro, quando saio com quatro amigos, não sou eu que pago tudo! E depois, ainda não consegui jogar suficientemente meus jogos para ter visto diluído esse investimento. Lembra do isolamento, lá do início do texto? E claro, é bem complicado convencer alguém a colocar 50, 80, 100 Reais para somente jogar e deixar o jogo com outra pessoa. Então, tenho não um, mas vários jogos ainda lacrados na estante, esperando algumas raras ocasiões para saírem de lá. Ok, ok. Parece patologia, mas lembra do final do parágrafo? É vício. Queremos seguir tendo e comprando e com o tempo, sabemos que os jogos vão agradar, mesmo ainda não tendo sido jogados.

Só que é um hobby caro. Cada caixa, mesmo daqueles que só possuem cartas, pode passar de 90 Reais. Os que têm muitos componentes (eurogamer adora aquele monte de pecinha de madeira e amerigamer ama as dezenas de miniaturas) podem chegar aos R$ 350-450. Uma facada que se não acerta o coração de primeira, acaba perfurando o pulmão e te deixando sem ar.

Se você cansou de por a culpa no nosso parque gráfico pífio e caro, na burocracia estatal e nos impostos galopantes, na ganância de alguns e por aí afora, você pode ter decidido comprar de fora, importando.

Mesmo assim, os preços médios não são um passeio gratuito na praça e você vai desembolsar uma pequena fortuna em postagem. Algumas vezes, o preço do envio será igual (ou superior!) ao valor do jogo na loja e depois dessa compra, vem aí a loteria Federal...



8. Taxas e tributos


Você achou que eu falava do premio da Quina ou Megasena? Não, não.

Estou falando da Receita Federal mesmo. Uma vez que sua compra tenha sido confirmada e devidamente postada no estrangeiro, começa a temporada de suar frio, acompanhando o rastreio da sua encomenda pela internet. Pedindo a nossa senhora do Board que livre seu jogo da alfândega brasileira.

Se você for um dos contemplados, prepare o bolso. A Receita Federal tributará seu pacote no ‘olhômetro’. O que o fiscal achar que custou, ele te taxará sobre esse valor imaginário. Daí é você quem decide se será extorquido no valor do ‘achômetro’ ou sai vasculhando seus comprovantes, para juntar um pequeno processo e comprovar por meio de oito ou dez comprovantes, quanto foi o valor real que você pagou sobre o objeto. Daí redobram as preces para ser atendido e o fiscal não contestar seus comprovantes e só te cobrar tributo sobre o valor do produto, o valor do frete e umas taxas obscuras que é melhor nem perguntar o que são. Não se esqueça que até o Correio vai te cobrar por ficar ‘guardando’ seu pacote na agência até que essa situação se resolva. Se tudo der certo, você pagará de 60~70% sobre o valor pago (jogo + postagem).

Só que agradeça ainda, pode piorar. Se seu pacote vier por correio, as chances de ser tributado existem, mas são pequenas. Agora, se seu pacote vier por courier (Fedex, TNT, DHL, UPS), aí meu amigo, em 99% dos casos você cairá nas mãos da Receita. E a facada será daquelas que retiram o coração, os rins, duas córneas e talvez o fígado. Naquele caso triste citado acima, do KS de 2016 que só chegou esses dias, tive a infelicidade de ser atendido pela UPS. Fui grampeado no aeroporto de Campinas e para meu desconsolo e quase abandono do hobby por conta da extorsão, em um jogo que me custou 105 dólares (jogo + envio), tive que desembolsar R$480. Era isso ou abandonar o jogo. Por pouco mais da metade desse valor, vi lojas vendendo a versão retail desse jogo. Como queria por causa dos extras do Kickstarter, fiquei em um prejuízo de 138% sobre o valor pago. A parcela francesa da entrega despachou o pacote sem declarar o valor da postagem e acreditem, a Receita também cobrou de mim, uma multa por causa disso. E não se esqueça de computar o valor da ‘carga’ ocupando espaço no aeroporto.

Moral da história e esperança: Que daqui pra frente, não entro mais em KS que não tenha o selo “Brazilian Friendly” no quesito postagem. Uma novidade bem vinda, ainda que tardia, mas por hora escassa e que não ajuda muito com o preço final do seu jogo novo, mas que tira essas surpresas desagradáveis da sua porta. Se o vício fosse menor, acho que esse evento traumático me faria procurar os boardgamers anônimos.

só facada!

9. As entregas


Às vezes penso no meu hobby e o comparo a algum daqueles jogos do Atari da década de 80: Não importa quantos buracos você salte, quantos jacarés você evite ou em quantos cipós tenha que se pendurar, sempre terá um obstáculo que vai te matar...

Depois de decidir qual jogo comprar, resolver seu problema de espaço, de se enforcar no cartão para comprar mais, de apoiar aquele financiamento especial, controlar a ansiedade, descobrir que estão falando mal dos componentes desse jogo e por fim escapar milagrosamente da tributação, você pensa: "enfim vitória?"

Ña-na-ni-na-não...

Agora vem o verdadeiro desafio. O jogo chegará ou não na sua porta?

Não era essa a semana em que os carteiros iriam fazer greve geral?

Deixa-me ver se entendi: o meu pacote saiu da unidade de tratamento internacional em Curitiba, indo em direção ao CTCE Curitiba e levou 12 dias para chegar?! Na mesma cidade?!

Então, vai mais ou menos por aí...

Cada dia é uma nova aventura com os correios brasileiros. Pode acontecer de tudo. E não pense que se seu pacote tem número de rastreio que está tudo resolvido. Um amigo do fórum postou certa vez um número de rastreio dele e no meio do caminho tem a mensagem: objeto roubado(!). Ou o carteiro nem vai chegar perto da sua rua e vai aparecer a mensagem de “destinatário ausente”. Seu objeto pode vir surrado, mal embalado, violado e já ouvi até de ter chegado molhado, com prejuízo à caixa e componentes.

Vivemos a ditadura do serviço ruim. Ou vai assim ou não vai. Quer tentar o courier, como mencionei acima? Acho que o que está ruim pode realmente piorar com o tempo, mas pode ser muito pior se seu pacote vier entregue por outros caminhos. Não sei se de todos os inimigos citados até agora, as entregas são o pior que há, mas te digo que as reclamações são bem numerosas. Se começar a teclar “Reclame Aqui” no Google, ele logo vai sugerir “Reclame Aqui Correios”. Esse site de coleta de experiências ruins contém quase 50 mil reclamações referentes aos serviços prestados. Para mim, um dos inimigos que me fez repensar meu hobby algumas vezes. Tenho no portfólio um pacote que simplesmente nunca chegou. Fico imaginando alguém jogando minha cópia do Caylus, brincando de dar peteleco nas pecinhas...

Kombi capotada em Blumenau - fonte:http://wp.clicrbs.com.br

Imagem significativa da atual situação dos nossos correios.


10. O tempo escasso (e valioso!)


Uma coisa de velho é a rabugice e por isso, estou escrevendo esse artigo. Mas outra coisa de velho é a nostalgia. E me lembro como se fosse ontem, a vez que comecei a jogar Cosmic Wars do nintendinho às três da tarde de uma sexta-feira e só fui desligar o console umas seis e meia da manhã do sábado. Isso, para que meus pais não ralhassem comigo. Bons tempos em que o Natal ou Ano Novo eram as oportunidades de ouro para entrar madrugada afora jogando War ou Banco Imobiliário com os primos.

Nossos maravilhosos jogos, o evento social que eles promovem está posto à prova pela correria da vida adulta.

Hoje, SE tenho um sábado livre, tenho preferido ir dormir mais cedo na sexta, para dormir umas horas a mais. O tempo se tornou um inimigo implacável para os amantes dos jogos analógicos. Existem as mesmas 24 horas da infância, mas que foram preenchidas por um sem número de atividades essenciais à sobrevivência. Quando encontramos e priorizamos um tempo para essa atividade lúdica, encontramos outro problema, o de conciliar agendas com todos os envolvidos. Todo mundo está lutando com as mesmas coisas.

Existem casais, mas o cônjuge pode não acompanhar o hobby (e pega no pé pelos gastos), pode haver filhos, mas pequenos demais para os jogos e fica a promessa de que no futuro serão ótimos companheiros. Por outro lado, os filhos já podem ser grandes demais e não queriam passar tanto tempo com seu coroa, existem eventos de jogos e grupos isolados. As oportunidades sempre podem ser encontradas, porque quem quer, encontra um meio e quem não quer, uma desculpa.

Mas o tempo escasso sempre será um inimigo invisível. Será que na aposentadoria o meu velhíssimo Terra Mystica ainda será tão jogão como é hoje? Preciso ir pesquisar asilos e casas de repouso que tenham algo a mais do que damas e tabuleiros de xadrez...


11. Os não jogadores


Por fim e não menos importante, um fator que pesa bastante nesse hobby.

“Eita povo desanimado para jogar!!”

Você passa horas, dias planejando sua próxima compra. Pensa com cuidado nas possibilidades, na mecânica, no tema, para que público esse ou aquele jogo servirá melhor. Planeja o custo da sua próxima aquisição, compra mais prateleira para seu novo jogo, deseja ardentemente que a produção do jogo esteja impecável e não faltando nada, aguarda ansiosamente e com paciência pelos atrasos, enfrenta a angústia de não saber se seu jogo vai ser entregue intacto, passa incontáveis horas olhando pela janela esperando o carteiro e então, seu jogo chega! Tudo está perfeito e o jogo é lindo!


“Mas ninguém quer jogar!?”

“Como assim você não entende o que eu vejo nesses ‘joguinhos’?”

“Claro que isso que não é coisa de criança!”

“O quê? Não, não acho que eu paguei caro não. Eu pretendo jogar esse muitas e muitas vezes, ele tem rejogabilidade...”

“Rejogabilidade? Já te explico. Hã? Você não quer saber o que é?”

“Puxa, assim fica difícil...”


Talvez nem todo mundo já tenha passado por algo assim, mas é inegável que todo aquele que está de fora é um candidato a crítico daquilo que fazemos. Fazer um prosélito é uma tarefa árdua, mas gratificante e enquanto isso vai enfrentando os críticos e suas críticas. Dizem que é coisa de criança, dizem que gastamos demais com bobagem, dizem que não somos capazes de jogar todos os jogos da coleção, por isso deveríamos ter só dois ou três, dizem que War era muito melhor, falam que só jogariam de novo o Banco Imobiliário (sic!) e por aí vai...


Na berlinda desse universo, existem muitos inimigos espreitando a cada curva, mas superior a tudo isso está o fato de que amamos o que fazemos. Não amo as caixas e possibilidades, mas amo os momentos ao redor de uma mesa, desafinado outros ou desafiando a si mesmo, mas sem preocupações com quem vencerá. No final da partida, eu terei sido o maior vencedor, por ver amigos reunidos comigo, ao redor de algo que disponho muito esforço, grana e tempo para colecionar.



Quais são seus inimigos? Vamos lá, te ajudo a derrubar um por um!


Até a próxima, comunidade!

Comentarios


Destaque
Tags

© 2017 Meeple Community. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Google+ B&W
bottom of page